“naquele tempo toda a cidade ardia e nós
ardíamos com ela mas sabíamos
que havia de chegar uma noite
em que as amarras (ou a pátria, tanto faz)
seriam mais fortes e entraríamos
em silêncio no quarto
inventando palavras tão transparentes para a nossa vida
que hoje tenho dificuldade em encontrá-las
para as colocar em seus devidos lugares
tínhamos então a idade
de tudo o que nos acontecia pela primeira vez
protegidos pela sombra dos castanheiros de maio
e ainda que por breve tempo, chegámos a acreditar
que um dia nos iríamos de novo amar ali
exactamente ali
entre o rio, as pontes, as estátuas
a praia que roubávamos ao asfalto
onde os dias pareciam sem desvio
e a dona do hotel a prometer-nos
domingos de sol”
Alice Vieira, 2007
(e eu a prometer voltar)
Sem comentários:
Enviar um comentário