15 de maio de 2015

tears of liberty

Espero que não tardes em vir. Espero que não esperes, como eu esperei por ti. Espero que vivas feliz, nessa ilusão de quem já esperou esquecer-me. Espero, lá no fundo, que tenhas esperado para me esquecer. Eu espero, ainda mais do que tu alguma vez esperaste pela manhã que não vinha, nos lençóis da minha cama, que te canses de esperar. Que o tempo corra, como tu correste para mim.
E espero, mais do que espero por ti, que mais ninguém te faça gritar como eu fiz. Que mais ninguém te faça rir, às gargalhadas, como eu fazia. Que mais ninguém te faça sentir tão confortável como quando nos destruíamos. E espero, sobretudo, que os teus olhos não brilhem, não se mostrem tão bonitos, como só eu os via.
Que o tempo passe rápido. Mais rápido. Que eu te perca tantas vezes como as que te encontro. Que deixemos de fazer parte deste filme que tem sido a nossa vida. Que percebas que qualquer beleza que já conheceste até agora nunca se vai poder comparar à beleza que descobrimos nas noites que passámos sem dormir; à das visitas por Lisboa quando ainda se sentia o frio da madrugada; à da minha pele na tua; à do álcool que nos consumia e nos libertava um do outro e um para o outro.
E espero que te lembres de mim. Que eu seja uma memória boa. A tua memória mais forte. Pelo menos, no que toca a estas coisas do coração, que eu tenha aparecido no tempo errado mas tenha feito as coisas certas. Que, mais tarde, quando o tempo já for certo, possamos errar muito os dois. Eu espero. Espero e (des)espero.