17 de julho de 2015

Ao(s) falecido(s)

Um brinde ao meu falecido, como gosto de lhe chamar.
Ao que me faz ficar com as pernas a tremer e a voz a falhar.
Ao que me faz ter alucinações e rouba horas de sono.
Ao filho da puta que, mesmo sem saber, me entorna lágrimas que nem vinho tinto em roupa branca.
Ao que, mesmo sem estar perto, me corta a respiração como mais ninguém.

Um brinde aos meus amigos, que nunca se cansaram.
Aos que, pacientemente, me abraçaram a alma.
Aos que, vezes sem conta, correram para mim.
Aos que se perderam nas tuas histórias.
Aos que me querem tanto como eu te queria.

E um brinde a mim, que só agora te estou a fazer o luto.
A mim, que percebi que os dias cinzentos existem e que não preciso que vás a correr roubar o sol.
A mim, que aceitei a tua derrota como a minha maior vitória.
A mim, que tanto esperei para deixar de te querer.
A mim, que me consegui erguer depois de tantas vezes apanhar do chão frio de minha casa, o meu coração e as tuas roupas amarrotadas.