Não fomos feitos para correr.
Não fomos feitos para procurar o que não sabemos se existe. Pelo menos eu já não estou talhada desse jeito. Aquele que tu conheceste.
Tu. Que foges e sempre fugiste. Foges do tempo. Foges de ti.
Agora que o tempo passou estou serena. Aprendi a desfrutar da minha própria companhia. Estar sozinha já não é triste e passou a fazer parte de mim. Não tenho, necessariamente, de depender da companhia dos amigos que tantas vezes me levaram até ti, não tenho de me sujeitar às regras e convenções sociais de que tantas vezes fui vítima só para poder olhar para ti. Agora que a tempestade acabou; que filtrei com cuidado as minhas companhias; que remexi, arrumei e desarrumei vezes sem conta a minha cabeça; que percebi que talvez até consiga viver com o estigma que tenho em relação à sociedade e a qualquer tipo de regra; agora que deixei de me esforçar, de me importar em aceitar as verdades universais que nunca ninguém questionou. Tenho a minha opinião mais sóbria do que eu alguma vez vou estar, apesar de saber que não gostas e que não queres que me torne num ser desses, como tu te tornaste; e que perceba todas as tuas palavras, até as que nunca disseste. Mais ainda; sei exatamente o que era, para ti, para o círculo mais ou menos mesquinho que me rodeava. E que tu nunca gostaste. Nunca quiseste que eu seguisse sozinha e a tua luta passava sempre por me encaixares aqui ou ali. Já está! Já encontrei o meu lugar. Sempre fui boa atriz, sobretudo na maior parte das vezes em que nem eu sabia que representava. Agradeço aos lunáticos que, como tu e como eu, viveram tão bem neste teatro. Nesta casa pequena onde sempre tivemos espaço para mais uma cena. Onde contracenámos, dançámos, rimos e chorámos. Pelo menos eu chorei. Deixa os aplausos para depois. Para uma próxima. Para quando voltarmos a pisar um palco maior, com um público bem mais exigente. Foste um prazer.
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